domingo, 3 de agosto de 2014

"CEIA E CAMINHA" (SEIA E CAMINHA, URBES DE PORTUGAL)

(o pastor e as ovelhas)
(um pão alentejano)
(um corno com azeitonas)
Lá no campo o moço guardava as ovelhas!...
 na descampada planície alentejana, num dia à tarde
 na cabeça usava uma boina, com ela tapava as orelhas
para as proteger, da chuva, do frio e da humidade.

Numa mão levava o talego com azeitonas e pão,
só e apenas na outra sua mão o bordão levava
como jornaleiro, recebia pouco mais de um tostão 
tinha no casebre o catre sem enxerga e mais nada!

A trabalhar de barriga vazia,
sem ter almoço para comer.
Se é para todos o meio dia
o pobre nasceu para nada ter.

Bebia água pelo cocharro,
para o estômago enganar
deitado à sombra do chaparro
  pão e azeitonas p'ro jantar.

Teimava no chão não se sentar,
para não sujar as calças no traseiro
junto das ovelhas um dia inteiro
encostado no bordão a descansar.

 Porque eles não ignoram!...
sabem que do trigo se faz a farinha
depois de um dia de descanso, adoram
os alentejanos, Ceia e Caminha.

O trigo no campo ceifei,
não se vão zangar comigo
porque eu mentir não sei
as verdades sempre digo!
(Eduardo Maria Nunes)

6 comentários:

  1. A verdade de quem faz para os outros e ficam sem pode doer.
    Belo post! Completo.
    Beijos,
    Renata

    ResponderEliminar
  2. Olá poeta amigo
    As agruras de alguém que conheceu sofrimentos na vida. lembranças que causam mágoa e dor. Belo poema meu caro amigo Edu.
    Beijos e uma abençoada semana

    ResponderEliminar
  3. Nós, os que nascemos no fim da II Guerra Mundial passámos um mau bocado até atingir a maioridade.
    E depois disso, como prémio, mandaram-nos para a Guerra do Ultramar.

    ResponderEliminar
  4. Ainda tenho dois talegos que eram da minha mãee, aliás até uso um para pôr o pão. Como boa alentejana, adoro ão com azeitonas. Aqui não tenho pão alentejano, mas há um pão de Monchique que é muito bom.
    Em miúda agarrei numa foice às escondidas para ceifar, cortei um dedo...:-) Depois escondi-me para ninguém ver que tinha feito sangue...
    Muito bem, eduardo, um poema sobre a dura realidade que conheceu, e como disse o sr antes de mim, uma geração que para além da fome e muita falta de instrução para muitos, ainda apanhou com a Guerra nas colónias. Uma geração muito sacrificada.
    xx

    ResponderEliminar
  5. Ah, desculpe faltar-me o p em pão, e ter escrito o seu nome com letra pequena.
    É o que dá ter a comida ao lume!...:-)

    ResponderEliminar
  6. Já em Seia enchi a barriguinha
    continuei a viagem e fui dormir a Caminha, já era crecido e tinha o meu Passat, porque até aos meus 15 anos nem bicicleta tinha, mas o Salazar tinha reservas de ouro, o povo que vergasse a mola, agora não há onde vergar a mola, pelo mundo andamos a pedir esmola!
    Vamos a Fátima rezar, para nos ajudar a inverter a situação.
    E cá vai aquele abração

    ResponderEliminar