quarta-feira, 14 de novembro de 2018

"URZE"

De uma cepa fiz um pião,
de fios de linho fiz um cordel
num talego vazio sem farnel
para a merenda não havia pão!

Sempre houve e há descontentamento,
sempre houve e haverá arrogância,
a viajar, continuam no pensamento
 lembranças, essas, da minha infância!

Nada disso estou inventando,
sem azeitonas um corno vazio
pelas faces corriam-lhe a fio
lágrimas dos olhos chorando!

Um alentejanito dizia,
tenho fome, ó! mãe dá-me pão
nos olhos, com lágrimas de tristeza,
magoado sentindo o seu coração
não filho! Sua mãe respondia. . .
O pão é para o teu pai comer
logo à noite, quando chegar do trabalho
com um feixe de lenha enfiado na cabeça!
(Edumanes)
"Em algumas zonas do Baixo Alentejo. Era costume os homens à noite regressarem do trabalho com um feixe de lenha às costas.  Para acenderem o lume e nele, ao serão, se aquecerem".

10 comentários:

  1. Se não houvesse mais ninguém para ir à lenha, que remédio tinha ele. Ou então rapava frio toda a noite.
    Bonita poesia à urze, flor do monte que é tão bonita!

    ResponderEliminar
  2. Como o Alentejo sofreu.... corta o coração!


    Abraço, meu amigo

    ResponderEliminar
  3. Maravilhoso e sentido poema:)) Imagem belissima.

    Hoje com: Trilhos da Solidão

    Bjos
    Votos de uma óptima Quarta - Feira.

    ResponderEliminar
  4. Fez-me recuar à infância...Os pinhais andavam sempre limpos, era tudo feito a lenha...Amei o poema!!
    Embriagada na luz da fantasia
    Beijos - Boa Noite!

    ResponderEliminar
  5. Lindo e puro.
    Tristezas tão verdadeiras essas
    Obrigada por partilhar este pedaço de arte, história e sentimentos
    Beijinho

    ResponderEliminar
  6. Muita fome se passou no Alentejo. Mas não só. Na verdade muita fome se passou no país inteiro.
    Abraço

    ResponderEliminar
  7. Tão puro! É sempre um gosto ler a sua poesia, além de que aprendo sempre algo novo

    r: Obrigada e resto de boa noite :)

    ResponderEliminar
  8. Um poema que é uma viagem a um passado não tão distante quanto possa parecer.
    Aquele abraço

    ResponderEliminar
  9. Tempos difíceis esses que felizmente já passaram.
    Um abraço e continuação de uma boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

    ResponderEliminar
  10. Tempos em que se sofria para alimentar os filhos, mas as nossas matas estavam sempre limpas e o mato roçado à enxada, não haviam fogos e o adubo para criar o que comíamos era natural, as pessoas eram saudáveis, mais alegres e não gastavam dinheiro nos médicos.

    Saudável pela nossa amizade vai aquele abraço.

    ResponderEliminar