quarta-feira, 8 de outubro de 2014

"SONETOS"

1
Chaves na mão, melena desgrenhada,
batendo o pé na casa, a mãe ordena
que o furtado colchão, fofo e de pena,
a filha o ponha ali ou a criada.

A filha, moça esbelta e aperaltada,
lhe diz coa doce voz que o ar serena:
- «Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena;
olhe não fique a casa arruinada...»

- Tu respondeste assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
já a mãe não tem mãos?» E, dizendo isto,

arremete-lhe à cara e ao penteado.
Eis senão quando (caso nunca visto!)
sai-lhe o colchão de dentro do toucado!...
2
Vai mísero cavalo larazento,
pastar longas campinas livremente;
não percas tempo, enquanto to consente
de magros cães faminto ajuntamento.

Esta sela, teu único ornamento,
para sinal da minha dor veemente,
de torto prego ficará pendente,
despojo inútil do inconstante vento.

Morre em paz, que, em havendo algum dinheiro,
hei-de mandar, em honra de teu nome,
abrir em negra pedra este letreiro:

«Aqui piedoso entulho os ossos come
do mais fiel, mais rápido sendeiro,
que fora eterno, a não morrer de fome».
(Nicolau Tolentino)

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

"ENFIANDO A LINHA"

(Imagem Google)
No lugar do se ajeite!
estava uma bela sortuda
assim dizia ela, mete, mete 
mais, empurra, empurra.

 Pelo buraco da agulha,
enfiando a ponta da linha
com os dedos empurra
é para coser a bainha
das calças que tu usa!

Olhou para o barro vidrento!
com ele fez um púcaro vidrado
no tempo com ele água bebendo
o poeta, pela arte apaixonado.

Bebe a água mais fria,
diferente do cocharro
descansa durante o dia
à sombra do chaparro.

Com ele vive no tempo,
no tempo por ele bebe água
 bem conservado se mantendo
diz, vale mais do que nada.

Sem pressa no tempo,
naquele sítio apetecido
lugar de contentamento
seja no tempo bem vivido.

Alvoro, no vale do paraíso,
 tem na paisagem camuflada
na fonte do desejo proibido
sopra o vento, nasce água!
(Eduardo Maria Nunes)

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

"BOM FIM DE SEMANA. . . COM A PILITA"

A PILITA ALENTEJANA

Rija, enquanto durou.
Agora q'amolengou
e antes q'a morda a cobra,
Vou atá-la c'uma corda
Pra ela nã me fugiri.

Preciso da sacudiri,
Leva tempo pá'cordari
Já nem se sabe esticari.

Má lenta q'um caracoli,
Enrola-se-me no lençoli.

Ninguém a tira dali,
Já só dá em preguiçari.
Nada a faz alevantari
E já nã dá com o monti,
Nem água bebe na fonti.

Que bich'é que lhe mordeu?

Parece defunta, morreu.
Deu-lhe p'ra enjoari,
Nem lh'apetece cheirari.
Jovem, metia inveja.
Com  más gás q'uma cerveja,
Sempre pronta p'ra brincari.

Cu diga a minha Maria,
Era de nôte e de dia.

Até as mulheres da vila,
Marcavam lugar na fila,
P'ra eu lha poder mostrari!
Uma moura a trabalhari,
Motivo do mê orgulho.

Fazia cá um barulho!
Entrava pelos quintais,
Inté espantava os animais.

Eram duas, três e quatro,
Da cozinha até ao quarto
E até debaixo da cama.
Esta bicha tinha fama.

Punha tudo em alvoroço,
Desde o mê tempo de moço.
A idade nã perdoa,
Acabô-se a vida boa!

Depois de tanto caçari,
Já merece descansari.
Contava já mê avô:
"Niuma rata lhe escapou!"
É o sangui das gerações.
Mas nada de confusões,

Pois esta estória aqui escrita,

 É da minha gata, a Pilita!
(Atori. . .nã sê nã Senhori)

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

"A MAIOR DOR HUMANA"

SONETO À VIRGEM

Ó Virgem! eu vi Job leproso em seu lameiro,
torcido qual carvalho a que o tufão arraste,
exclamar na aflição: - Maldito o homem primeiro!
Maldito o ventre, ó Mãe, em que tu me geraste!

Ó Virgem! eu vi Cristo amarrado ao madeiro,
como o branco marfim ou lírio roxo na haste,
suspirar num sol-pôs magoado e derradeiro:
- Ó meus Deus! Ó meus Deus! porque Me abandonaste?

Ó Virgem, vi Raquel chorando os filhos mortos,
errante, esguedelhada, olhos doidos, absortos,
pelas serras, à lua, encher Judeia de ais.

Mas vi-Te, ó Mãe, depois ao teu morto estreitada,
branca, sem cor, sem voz, feita em pedra, pasmada,
e a soluçar uivei - Tu é que sofres mais! 
(Gomes Leal)

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

"FLORES DE OUTONO"

(Imagem Google)
Continuo sem saber!
se por acaso não fosse como sou
não sei como gostaria de ser
contente, porque estou
porque vi o sol nascer,
não sei se por linhas tortas
direito conseguirei escrever
no mundo ouvindo galhofas
  muito gosto, sim, de viver.
Vejo as pedras da calçada
 sinto mas não o vejo passar
a aragem do vento na tchipala
quando a correr ou a caminhar.
De noite sem nuvens no céu
vejo as estrelas a brilhar
também vejo pernas ao léu
vejo rostos tristes e alegres
olhos com e sem lágrimas
vejo beleza nas mulheres.
Verdes plantas, floridas
vejo folhas amareladas
das árvores no chão caídas.
Porque sou alentejano,
despido nasci no Alentejo
vejo lindas flores de Outono
de onde estou vejo o Rio Tejo,
 desejo neste mundo maravilhoso
para todos vida saudável com tudo
comemora-se hoje o dia do idoso
primeiro dia do mês de Outubro!
(Eduardo Maria Nunes)

terça-feira, 30 de setembro de 2014

"NOITES SEM LUAR"

(Imagem Google)
Quem não aprende a ser alguém!
na vida sempre a ser ninguém continuará
quem amores na vida, também, os não têm
sem eles,  por eles toda a vida chorará?

  Em quem, e no que, estará ela a pensar,
 dos seus lindos olhos, brota luminosos desejos
 como duas estrelas no céu em noites sem luar
   nos seus lábios iluminando doces beijos.

Se acontece por acaso...
 amor sem destino à avessas
louco perdido no descampado
escrito com falsas promessas
num poema mal imaginado.

Pelos olhos dela encandeado,
numa estrada de terra barrenta
 deste então, feliz, vive apaixonado
 por aquela, linda, gaiata morena!
(Eduardo Maria Nunes)

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

"SÃO MARMELOS"

Bom dia e bom começo de semana!
são marmelos por mim assados no forno
comece bem o dia, amigo, amigo, não engana
a dizê-lo com toda a sinceridade me afoito.

Temperados com açúcar amarelo,
confirmo, 100% de garantia
tem doçura e bom espeto
estão mesmo uma delicia!

Têm certificado de qualidade,
se é servido ou servida
façam favor, sirvam-se à vossa vontade
porque, são as coisas boas da vida
que nos fazem sorrir de alegria e felicidade!
(Eduardo Maria Nunes)

sábado, 27 de setembro de 2014

"BOM FIM DE SEMANA"

(Imagem Google)
De alegria, não de tristeza, seriam as lágrimas!
se houvesse justiça social em todo o mundo 
creio não serem precisas mais palavras
se com estas, do que penso, digo tudo.

 Bom fim de semana!
para inspirar com esta flor
onde quer que você esteja
com tudo o que deseja
  Paz e muito Amor...
(Eduardo Maria Nunes)

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

"HISTORIETA"

Podia ser verdadeira!...
a historieta que vou contar
entrou no quarto a ventania
deitado na cama a sonhar
escorreguei na banheira
a cambalear caí dentro da bacia
bati com a cabeça no alguidar
no meio daquela escuridão
não sabia onde estava
para acender o lampião
se tinha ou não torcida
tive a forte sensação
era de noite, não de dia
algo estranho me empurrava
malhei com o corpo no chão
 hoje de manhã o galo cantava!
(Eduardo Maria Nunes)

terça-feira, 23 de setembro de 2014

"A VACA, O CHOCALHO E O ESPANTALHO"









(Imagens Google)

 A caminho da substituição dos espantalhos!
nas hortas estão mais que identificados pela passarada
pendurados no pescoço das vacas tocam os chocalhos
 no poleiro cantam os galos de madrugada!

Numa Nação mal governada!
banhada pelo Oceano Atlântico
quem tudo quer fica sem nada
porque os sonhos são engano.

Um jardim à beira do mar plantado,
cujo o jardineiro não sabe as flores podar
será como um barco no cais encostado
ferrugento, parado sem navegar.

 Já andam, pelo país, a prometer,
alguns impostos, poder, baixar
eu lhes digo, o meu não vão ter
 em mentirosos, mais não vou votar.

Não se esqueça de quando for votar,
de o não fazer nos que lhe tiram o pão
é preciso, urgentemente, desinfectar
toda a existente no país contaminação!

Mas, todo aquele que mais quer,
convencido,  coloca lá à toa a cruzinha
depois esfaimado sem pão para comer 
e nada mais, em cima da mesa da cozinha
 por tudo e por nada, reclama sem razão ter
porque esta nação está mui pobrezinha
o povo também não soube escolher
quando lá foi colocar a cruzinha!