sexta-feira, 31 de outubro de 2014

"SACA-ROLHAS"

Mote
Para acompanhar,
na cepa não há engano
da melhor alentejana
não a trambecar,
bom fim de semana.

Poema, o saca-rolhas!
não é nenhum brinquedo
nas mãos não faz bolhas
quase nunca pára quedo.

Tem como missão libertar,
tinto ou branco engarrafado
por isso não o deixam sossegar
quando e sempre é mais solicitado
na hora do almoço ou do jantar.

 Rolha, feita de cortiça,
comprida, bem torneada
antes do sobreiro tirada
não mete, a rolha, só tira
 do gargalo da garrafa.

 Saca-rolhas, ou abre-latas,
nem tudo que luz será ouro
não calça nos pés alpercatas
 na cabeça não usa gorro!

 Trabalha, sim, não à jorna,
por que não precisa, não recebe
também não mete, só tira a rolha
por não ser gente não percebe!
(Eduardo Maria Nunes)

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

"TOMATES ENLATADOS"

(Imagem Google)
Há tantos no parlamento!
disparates sem terem conta
 para a aprovação do orçamento
  o que mais lá há é gente tonta.

 A fazer ou dizer disparates,
será que o povo não percebe
 o dinheiro que aquela gente recebe
a coçar e não só, os tomates!

 Bem à maneira portuguesa!
se diz, estamos com eles entalados
há, em Portugal, quem enriqueça
com os tomates enlatados!

 Mais vale um sorriso nos lábios!
do que «sem milhões na algibeira»
Deus me perdoe todos os pecados
se por acaso disse alguma asneira?
(Eduardo Maria Nunes)

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

"CONTINUAÇÃO"

O galgo teve mais sorte,
vais sim ter continuação
porque encontrei o mote
mas ruínas desta nação!

A caminhar sem prudência,
apressado pôs os pés no charco
elaborado antes sem inteligência
 tinha sido o famoso Pec quatro, 
por ter causado a discordância
pelos contra não foi aprovado.

Houve quem quisesse doutra maneira.
por isso, foi a correr para a presidência
estava o presidente sentado na cadeira
a magicar como resolver a ocorrência.

Quando o risote viu tudo aquilo,
quase que não queria acreditar
logo chamou o ajudante Pirlo
 para a ocorrência testemunhar.

 Foi, então, quando a forte ventania,
abriu as portas para a coelhada entrar
porque a anterior e medonha invernia
 desde essa data veio mesmo para ficar.

Na vida a tempestade que nos inferniza,
 por muito tempo continuará a invernar,
de seis em seis meses vai haver vistoria
até 2035, se mais no tempo não se dilatar!
(Eduardo Maria Nunes)

terça-feira, 28 de outubro de 2014

"TOJO"

(Imagem Google
Lá no campo vi, é verdade!
quando ainda, eu, era catraio
uma lebre em excesso de velocidade
 a correr à frente dum cão galgo.

A olhar fiquei embasbacado,
o cão galgo não a agarrou
no caminho um chaparro
da lebre não se desviou.

 Não tem graça, contado, só visto,
bateu com a cabeça no tronco, coitada
sim, mais saboroso teria sido o petisco
se na panela tivesse sido cozinhada!

Ainda pensei nisso,
apanhá-la, qual carapuça
continuei a ouvir o ruído
daquela corrida confusa.

 Um monte de tojo estava perto,
de imediato para cima dele saltei
debaixo a correr um coelho esperto,
de lá saiu, a olhar para ele fiquei!

  Sem lebre e sem petisco,
 muito no tempo se transformou
 nos regatos muita água, tem corrido
 só o espertalhão o vento não levou!
(Eduardo Maria Nunes)

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

"DROMEDÁRIO"

(Imagem Google)
Não foi camelo que passou no Alentejo!
a vaguear, pelo centro, de sul para norte
em Vila Velha de Ródão saltou o Rio Tejo
não foi pequena mas sim a grande sorte.

 Estou só imaginando, não sei ao certo,
como não tinha mais nada para escrever
se fosse o dromedário estaria no deserto
 sem, ou talvez com pouca água para beber.

 Quem lá deveria estar a pregar, eu bem sei,
 dessas coisas hoje pensei e não quero falar
 por causa disso foi que estas palavras inventei
 para não andar por aí sem saber para onde olhar!
(Eduardo Maria Nunes)

sábado, 25 de outubro de 2014

"BOM FIM DE SEMANA"

 Bom fim de semana!
à sombra da azinheira
 no campo tem a cabana
 p'ra viver a vida inteira.

  Descansam trabalhando,
  alentejanos, não são flechas
 devagar, sempre andando
 mas, nada de pressas

O vagaroso caracol,
armou-se em alarve
às vezes até mais tarde
trabalham de sol a sol,

 Do ferreiro sopra o fole,
quando a tem come açorda
feita de pão duro, não mole
 ao sol desbota a roupa.

 Quando quente lá do céu,
chega o calor do sol à terra
na cabeça coloca o chapéu
o alentejano! Não sossega!

 Para proteger a mioleira,
mesmo assim corre à pressa
para a sombra da azinheira
vida de pobre difícil tarefa!
(Eduardo Maria Nunes)

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

"DESCORTIÇADO"

(Imagem Google)
O pavão abriu o leque!
 o galo quase perdeu o pio
 os cavalos puxam a charrete
 os barcos navegam no rio.

  Descortiçado aquele sobreiro,
 a cortiça, para fazer rolhas, foice
 grunhem os porcos no chiqueiro
  na parede a besta deu um coice.

  Do presente alarmante,
 virá no futuro incerteza
  de um passado preocupante
  fustigada nação portuguesa
  pelo vento de levante!
  (Eduardo Maria Nunes)

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

"DIGO, PORQUE É VERDADE"

Digo não, ao que não desejo,
Digo, sim quando preciso
Digo, sim a um beijo
Digo, por que não sou esquisito
Digo, abrigado para algo agradecer
Digo, irra quando de algo indignado
Digo, sim o que não irei esquecer
Digo, sempre o que tenha a dizer
Digo, mal nunca fiz nem nunca farei
Digo, fora de época está muito calor
Digo, bem me lembro por onde andei
Digo, já fui ao jardim colher uma flor
Digo, na terra sementes já semeei
Digo, já ceifei trigo e cevada
Digo, terra já lavrei
Digo, cavei terra com a enxada
Digo, carreguei cortiça com a carreta
Digo, já escrevi com lápis de carvão
Digo, também escrevi com a caneta
Digo,  fui muitas vezes a Garvão
Digo, não estou mentindo
Digo, porque é verdade
Digo, não estou fingindo
Digo, nasci no Alentejo
Digo, não à beira Guadiana
Digo, moro perto do Rio Tejo
Digo, amigo, amigo não engana!
(Eduardo Maria Nunes)

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

"TEMPESTADE DE ALEGRIA"

(Imagem Google)
Tempestade de alegria!
evadiu a sua, dela, intimidade
mais bela, de contente, dizia
 agarrei o amor e a felicidade.

Todo o corpo dela tremia!
amar mais do que amava
tanta ternura não sabia
porque mais não cabia
onde tanto amor guardava.

Resolveu, então, um dia,
abrir a porta do seu coração
dentro do peito permanecia
 guardada toda a sua paixão.

 Não deve um desejo ser perdido,
vem daí, não percas um segundo
toma nota nas palavras que te digo
vamos dar a volta ao mundo!
(Eduardo Maria Nunes)

sábado, 18 de outubro de 2014

"AO NASCER DO SOL"

    (Imagem Google)  
  O desejo navegante!
  a navegar, em alto mar
  na crista da onda delirante
   de espuma se embriagar.

 Da terra distante,
entre ondas a tontear
desponta o sol no horizonte
 ser amado e bem amar.

Claridade por um triz,
não havia na noite escura
quisera ser mais feliz
 partira numa aventura.

Em porto seguro ancorou
nas amarras da felicidade
de repente para o céu olhou
 viu da lua e das estrelas claridade
a desejar para amigas e amigos estou
 bom fim de semana com amizade!
(Eduardo Maria Nunes)

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

"A CONTAR COM O OVO NO CU DA GALINHA"

 Sem folhas, muito seco!
não era tronco, era tanganho
não foi sonho, foi pesadelo
 pensa-se que, entretanto,
de podre, demasiado peso
da árvore o fez cair no chão
pela terra será consumido?
Se sobrar. . .devolverão
no futuro desconhecido
falsas de certeza serão.
Será que alguém convencido
 contar com o ovo no cu da galinha
quando cair no chão fica partido
dele, não se aproveitará nadinha;
por isso já mudaram a ladainha
a pensar em nova composição
qual será o trunfo escondido
serão da nova-gera, salvação
de algo no tempo perdido
nas nuvens sonhos de ilusão
 voam no vento enfurecido!
(Eduardo Maria Nunes)

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

"QUEBROU A PEGA DA CANECA"

Quebrou a pega caiu no chão!
cheia de água quente uma caneca
foi tamanha assustadora confusão
por causa duma pulga na cueca.

A personagem alentejana,
assou o porco num aceso tição
tinha lá no campo uma cabana
dentro do chiqueiro um leitão.

A pulga fazia-lhe comichão,
não a deixava, um instante, sossegar
com água do poço encheu o caldeirão
para a maldita pulga nela afogar.

Aos saltinhos a maldita,
 refugiou-se junto ao lago
na lâ da ovelha escondida
que pastava lá no prado!
(Eduardo Maria Nunes)

terça-feira, 14 de outubro de 2014

"O VENTO ABRANDOU"

(Imagem Google)
O sol nasceu!
o vento abrandou
a saia que desceu
 lindas pernas tapou
a nuvem desapareceu
no céu azul o sol brilhou
na verde planta floresceu
uma linda flor, já murchou,
não resistiu à tempestade
cujo perfume lhe roubou
  feriu a sua intimidade,
para trás não olhou
triste pelo acontecido
ao certo ninguém sabe
dos olhos no chão terão caído
 muitas lágrimas de saudade!
(Eduardo Maria Nunes)

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

"AS COISAS QUE O VENTO FAZ"

(Imagem Google)
As nuvens foram deslocadas pelo vento!
de noite as estrelas brilhavam no céu
vontades satisfeitas no preciso momento
o que estava escondido pôs-se ao léu.
Há coisas difíceis, fáceis e desnecessárias:
desnecessário é chover no mar...
difícil é acertar nos números do euro milhões
 fácil é o vento as saias das mulheres levantar 
porque faz despertar adormecidos corações
cuja beleza mirones não se cansam de mirar!
(Eduardo Maria Nunes)

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

"SONETOS"

1
Chaves na mão, melena desgrenhada,
batendo o pé na casa, a mãe ordena
que o furtado colchão, fofo e de pena,
a filha o ponha ali ou a criada.

A filha, moça esbelta e aperaltada,
lhe diz coa doce voz que o ar serena:
- «Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena;
olhe não fique a casa arruinada...»

- Tu respondeste assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
já a mãe não tem mãos?» E, dizendo isto,

arremete-lhe à cara e ao penteado.
Eis senão quando (caso nunca visto!)
sai-lhe o colchão de dentro do toucado!...
2
Vai mísero cavalo larazento,
pastar longas campinas livremente;
não percas tempo, enquanto to consente
de magros cães faminto ajuntamento.

Esta sela, teu único ornamento,
para sinal da minha dor veemente,
de torto prego ficará pendente,
despojo inútil do inconstante vento.

Morre em paz, que, em havendo algum dinheiro,
hei-de mandar, em honra de teu nome,
abrir em negra pedra este letreiro:

«Aqui piedoso entulho os ossos come
do mais fiel, mais rápido sendeiro,
que fora eterno, a não morrer de fome».
(Nicolau Tolentino)

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

"ENFIANDO A LINHA"

(Imagem Google)
No lugar do se ajeite!
estava uma bela sortuda
assim dizia ela, mete, mete 
mais, empurra, empurra.

 Pelo buraco da agulha,
enfiando a ponta da linha
com os dedos empurra
é para coser a bainha
das calças que tu usa!

Olhou para o barro vidrento!
com ele fez um púcaro vidrado
no tempo com ele água bebendo
o poeta, pela arte apaixonado.

Bebe a água mais fria,
diferente do cocharro
descansa durante o dia
à sombra do chaparro.

Com ele vive no tempo,
no tempo por ele bebe água
 bem conservado se mantendo
diz, vale mais do que nada.

Sem pressa no tempo,
naquele sítio apetecido
lugar de contentamento
seja no tempo bem vivido.

Alvoro, no vale do paraíso,
 tem na paisagem camuflada
na fonte do desejo proibido
sopra o vento, nasce água!
(Eduardo Maria Nunes)

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

"BOM FIM DE SEMANA. . . COM A PILITA"

A PILITA ALENTEJANA

Rija, enquanto durou.
Agora q'amolengou
e antes q'a morda a cobra,
Vou atá-la c'uma corda
Pra ela nã me fugiri.

Preciso da sacudiri,
Leva tempo pá'cordari
Já nem se sabe esticari.

Má lenta q'um caracoli,
Enrola-se-me no lençoli.

Ninguém a tira dali,
Já só dá em preguiçari.
Nada a faz alevantari
E já nã dá com o monti,
Nem água bebe na fonti.

Que bich'é que lhe mordeu?

Parece defunta, morreu.
Deu-lhe p'ra enjoari,
Nem lh'apetece cheirari.
Jovem, metia inveja.
Com  más gás q'uma cerveja,
Sempre pronta p'ra brincari.

Cu diga a minha Maria,
Era de nôte e de dia.

Até as mulheres da vila,
Marcavam lugar na fila,
P'ra eu lha poder mostrari!
Uma moura a trabalhari,
Motivo do mê orgulho.

Fazia cá um barulho!
Entrava pelos quintais,
Inté espantava os animais.

Eram duas, três e quatro,
Da cozinha até ao quarto
E até debaixo da cama.
Esta bicha tinha fama.

Punha tudo em alvoroço,
Desde o mê tempo de moço.
A idade nã perdoa,
Acabô-se a vida boa!

Depois de tanto caçari,
Já merece descansari.
Contava já mê avô:
"Niuma rata lhe escapou!"
É o sangui das gerações.
Mas nada de confusões,

Pois esta estória aqui escrita,

 É da minha gata, a Pilita!
(Atori. . .nã sê nã Senhori)

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

"A MAIOR DOR HUMANA"

SONETO À VIRGEM

Ó Virgem! eu vi Job leproso em seu lameiro,
torcido qual carvalho a que o tufão arraste,
exclamar na aflição: - Maldito o homem primeiro!
Maldito o ventre, ó Mãe, em que tu me geraste!

Ó Virgem! eu vi Cristo amarrado ao madeiro,
como o branco marfim ou lírio roxo na haste,
suspirar num sol-pôs magoado e derradeiro:
- Ó meus Deus! Ó meus Deus! porque Me abandonaste?

Ó Virgem, vi Raquel chorando os filhos mortos,
errante, esguedelhada, olhos doidos, absortos,
pelas serras, à lua, encher Judeia de ais.

Mas vi-Te, ó Mãe, depois ao teu morto estreitada,
branca, sem cor, sem voz, feita em pedra, pasmada,
e a soluçar uivei - Tu é que sofres mais! 
(Gomes Leal)

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

"FLORES DE OUTONO"

(Imagem Google)
Continuo sem saber!
se por acaso não fosse como sou
não sei como gostaria de ser
contente, porque estou
porque vi o sol nascer,
não sei se por linhas tortas
direito conseguirei escrever
no mundo ouvindo galhofas
  muito gosto, sim, de viver.
Vejo as pedras da calçada
 sinto mas não o vejo passar
a aragem do vento na tchipala
quando a correr ou a caminhar.
De noite sem nuvens no céu
vejo as estrelas a brilhar
também vejo pernas ao léu
vejo rostos tristes e alegres
olhos com e sem lágrimas
vejo beleza nas mulheres.
Verdes plantas, floridas
vejo folhas amareladas
das árvores no chão caídas.
Porque sou alentejano,
despido nasci no Alentejo
vejo lindas flores de Outono
de onde estou vejo o Rio Tejo,
 desejo neste mundo maravilhoso
para todos vida saudável com tudo
comemora-se hoje o dia do idoso
primeiro dia do mês de Outubro!
(Eduardo Maria Nunes)