sábado, 25 de outubro de 2014

"BOM FIM DE SEMANA"

 Bom fim de semana!
à sombra da azinheira
 no campo tem a cabana
 p'ra viver a vida inteira.

  Descansam trabalhando,
  alentejanos, não são flechas
 devagar, sempre andando
 mas, nada de pressas

O vagaroso caracol,
armou-se em alarve
às vezes até mais tarde
trabalham de sol a sol,

 Do ferreiro sopra o fole,
quando a tem come açorda
feita de pão duro, não mole
 ao sol desbota a roupa.

 Quando quente lá do céu,
chega o calor do sol à terra
na cabeça coloca o chapéu
o alentejano! Não sossega!

 Para proteger a mioleira,
mesmo assim corre à pressa
para a sombra da azinheira
vida de pobre difícil tarefa!
(Eduardo Maria Nunes)

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

"DESCORTIÇADO"

(Imagem Google)
O pavão abriu o leque!
 o galo quase perdeu o pio
 os cavalos puxam a charrete
 os barcos navegam no rio.

  Descortiçado aquele sobreiro,
 a cortiça, para fazer rolhas, foice
 grunhem os porcos no chiqueiro
  na parede a besta deu um coice.

  Do presente alarmante,
 virá no futuro incerteza
  de um passado preocupante
  fustigada nação portuguesa
  pelo vento de levante!
  (Eduardo Maria Nunes)

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

"DIGO, PORQUE É VERDADE"

Digo não, ao que não desejo,
Digo, sim quando preciso
Digo, sim a um beijo
Digo, por que não sou esquisito
Digo, abrigado para algo agradecer
Digo, irra quando de algo indignado
Digo, sim o que não irei esquecer
Digo, sempre o que tenha a dizer
Digo, mal nunca fiz nem nunca farei
Digo, fora de época está muito calor
Digo, bem me lembro por onde andei
Digo, já fui ao jardim colher uma flor
Digo, na terra sementes já semeei
Digo, já ceifei trigo e cevada
Digo, terra já lavrei
Digo, cavei terra com a enxada
Digo, carreguei cortiça com a carreta
Digo, já escrevi com lápis de carvão
Digo, também escrevi com a caneta
Digo,  fui muitas vezes a Garvão
Digo, não estou mentindo
Digo, porque é verdade
Digo, não estou fingindo
Digo, nasci no Alentejo
Digo, não à beira Guadiana
Digo, moro perto do Rio Tejo
Digo, amigo, amigo não engana!
(Eduardo Maria Nunes)

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

"TEMPESTADE DE ALEGRIA"

(Imagem Google)
Tempestade de alegria!
evadiu a sua, dela, intimidade
mais bela, de contente, dizia
 agarrei o amor e a felicidade.

Todo o corpo dela tremia!
amar mais do que amava
tanta ternura não sabia
porque mais não cabia
onde tanto amor guardava.

Resolveu, então, um dia,
abrir a porta do seu coração
dentro do peito permanecia
 guardada toda a sua paixão.

 Não deve um desejo ser perdido,
vem daí, não percas um segundo
toma nota nas palavras que te digo
vamos dar a volta ao mundo!
(Eduardo Maria Nunes)

sábado, 18 de outubro de 2014

"AO NASCER DO SOL"

    (Imagem Google)  
  O desejo navegante!
  a navegar, em alto mar
  na crista da onda delirante
   de espuma se embriagar.

 Da terra distante,
entre ondas a tontear
desponta o sol no horizonte
 ser amado e bem amar.

Claridade por um triz,
não havia na noite escura
quisera ser mais feliz
 partira numa aventura.

Em porto seguro ancorou
nas amarras da felicidade
de repente para o céu olhou
 viu da lua e das estrelas claridade
a desejar para amigas e amigos estou
 bom fim de semana com amizade!
(Eduardo Maria Nunes)

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

"A CONTAR COM O OVO NO CU DA GALINHA"

 Sem folhas, muito seco!
não era tronco, era tanganho
não foi sonho, foi pesadelo
 pensa-se que, entretanto,
de podre, demasiado peso
da árvore o fez cair no chão
pela terra será consumido?
Se sobrar. . .devolverão
no futuro desconhecido
falsas de certeza serão.
Será que alguém convencido
 contar com o ovo no cu da galinha
quando cair no chão fica partido
dele, não se aproveitará nadinha;
por isso já mudaram a ladainha
a pensar em nova composição
qual será o trunfo escondido
serão da nova-gera, salvação
de algo no tempo perdido
nas nuvens sonhos de ilusão
 voam no vento enfurecido!
(Eduardo Maria Nunes)

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

"QUEBROU A PEGA DA CANECA"

Quebrou a pega caiu no chão!
cheia de água quente uma caneca
foi tamanha assustadora confusão
por causa duma pulga na cueca.

A personagem alentejana,
assou o porco num aceso tição
tinha lá no campo uma cabana
dentro do chiqueiro um leitão.

A pulga fazia-lhe comichão,
não a deixava, um instante, sossegar
com água do poço encheu o caldeirão
para a maldita pulga nela afogar.

Aos saltinhos a maldita,
 refugiou-se junto ao lago
na lâ da ovelha escondida
que pastava lá no prado!
(Eduardo Maria Nunes)

terça-feira, 14 de outubro de 2014

"O VENTO ABRANDOU"

(Imagem Google)
O sol nasceu!
o vento abrandou
a saia que desceu
 lindas pernas tapou
a nuvem desapareceu
no céu azul o sol brilhou
na verde planta floresceu
uma linda flor, já murchou,
não resistiu à tempestade
cujo perfume lhe roubou
  feriu a sua intimidade,
para trás não olhou
triste pelo acontecido
ao certo ninguém sabe
dos olhos no chão terão caído
 muitas lágrimas de saudade!
(Eduardo Maria Nunes)

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

"AS COISAS QUE O VENTO FAZ"

(Imagem Google)
As nuvens foram deslocadas pelo vento!
de noite as estrelas brilhavam no céu
vontades satisfeitas no preciso momento
o que estava escondido pôs-se ao léu.
Há coisas difíceis, fáceis e desnecessárias:
desnecessário é chover no mar...
difícil é acertar nos números do euro milhões
 fácil é o vento as saias das mulheres levantar 
porque faz despertar adormecidos corações
cuja beleza mirones não se cansam de mirar!
(Eduardo Maria Nunes)

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

"SONETOS"

1
Chaves na mão, melena desgrenhada,
batendo o pé na casa, a mãe ordena
que o furtado colchão, fofo e de pena,
a filha o ponha ali ou a criada.

A filha, moça esbelta e aperaltada,
lhe diz coa doce voz que o ar serena:
- «Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena;
olhe não fique a casa arruinada...»

- Tu respondeste assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
já a mãe não tem mãos?» E, dizendo isto,

arremete-lhe à cara e ao penteado.
Eis senão quando (caso nunca visto!)
sai-lhe o colchão de dentro do toucado!...
2
Vai mísero cavalo larazento,
pastar longas campinas livremente;
não percas tempo, enquanto to consente
de magros cães faminto ajuntamento.

Esta sela, teu único ornamento,
para sinal da minha dor veemente,
de torto prego ficará pendente,
despojo inútil do inconstante vento.

Morre em paz, que, em havendo algum dinheiro,
hei-de mandar, em honra de teu nome,
abrir em negra pedra este letreiro:

«Aqui piedoso entulho os ossos come
do mais fiel, mais rápido sendeiro,
que fora eterno, a não morrer de fome».
(Nicolau Tolentino)