Do Dragão e de Alvalade,
sem parar de noite e dia
a Águia querem matar,
para a Luz fazem pontaria
não lhe conseguem acertar
porque ela em liberdade
mais alto continua a voar!
Não sei cantar não canto,
não sou pássaro de gaiola
sou um homem do campo
não sofro por causa da bola.
Eu sei separar o joio do trigo,
para o pão ter mais qualidade
as minhas unhas não roo, digo,
para as cortar tenho habilidade.
Com esse dom nasceu,
para pontapear a bola
quem mais do que eu
pressa tem, vá embora.
Perdem a compostura,
quando estão assanhados
pela bola há quem discuta
com os ânimos exaltados!
Nessa não me vejo,
fazendo triste figura
eu nasci no Alentejo
no tempo da ditadura.
Outrora a farfalhuda,
agora nas bordas pelada
não passa fome tem fartura
sem obstáculos à entrada!
Sendo a vida mais bela,
vivida com amor e ternura
são tão lindos os olhos dela
sem lágrimas de amargura!
(Edumanes)