quinta-feira, 2 de outubro de 2014

"A MAIOR DOR HUMANA"

SONETO À VIRGEM

Ó Virgem! eu vi Job leproso em seu lameiro,
torcido qual carvalho a que o tufão arraste,
exclamar na aflição: - Maldito o homem primeiro!
Maldito o ventre, ó Mãe, em que tu me geraste!

Ó Virgem! eu vi Cristo amarrado ao madeiro,
como o branco marfim ou lírio roxo na haste,
suspirar num sol-pôs magoado e derradeiro:
- Ó meus Deus! Ó meus Deus! porque Me abandonaste?

Ó Virgem, vi Raquel chorando os filhos mortos,
errante, esguedelhada, olhos doidos, absortos,
pelas serras, à lua, encher Judeia de ais.

Mas vi-Te, ó Mãe, depois ao teu morto estreitada,
branca, sem cor, sem voz, feita em pedra, pasmada,
e a soluçar uivei - Tu é que sofres mais! 
(Gomes Leal)

5 comentários:

  1. Um pouco violento para o meu gosto, mas bem imaginado!

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  2. Relata a dor de quem sofreu por nós, todos nascemos, amamos, choramos e morremos, deste destino ninguém se livra.

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  3. Realmente amigo, Eduardo, eis a grande dor: a mãe chorando a morte do filho!
    Um abração. Tenhas uma boa tarde/noite.

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  4. Que maravilhoso soneto escolheste! Um nobre sofrimento! bjs

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  5. UMA ESCOLHA ESPANTOSA.
    Bem de acordo com os tempos...

    Beijo

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