segunda-feira, 12 de novembro de 2018

"ALENTEJANISMOS...COM TRADUÇÃO"

Texto que Maria Florindo, professora do 1.º ciclo do Ensino Básico e da Universidade Sénior de Évora, publicou no jornal alentejano Tribuna Alentejo (14/08/2014), acerca dos regionalismos alentejanos.


Eu - Abalei às 15h…

Ele - Tu o quê??

Eu - Abalei…

Ele - O que é isso?

Eu - Ora, fui-me embora…

Todo o bom alentejano “abala”, para um sítio qualquer, que normalmente é já ali. O ser já ali é uma forma de dizer que não é muito longe, mas claro que qualquer aldeia perto aqui no Alentejo está no mínimo a cerca de 30km. Só um alentejano sabe ser alentejano!

Um alentejano “amanha” as suas coisas, não as arranja, um alentejano tem “cargas de fezes”, não tem problemas, um alentejano vai “à do ou à da…” não vai a casa de…, um alentejano “inteira-se das coisas” não fica a saber… No Alentejo não há aldrabões há “pantomineiros” e aqui também não se brinca, “manga-se”.

No Alentejo não se deita nada fora, “aventa-se” qualquer coisa e come-se “ervilhanas” ou “alcagoitas” (amendoins) e “malacuecos” (farturas). Os alentejanos não espreitam nada nem ninguém, apenas se “assomam”… E quando se “assomam” muitas vezes podem mesmo ter dores nos “artelhos” (tornozelos)!

As coisas velhas são “caliqueiras” e muitas vezes viaja-se de “furgonete” (carrinha de caixa aberta), algo que pode deixar as pessoas “alvoreadas” (desassossegadas). Quando algo não corre bem, é uma “moideira” (chatice) e ficamos “derramados” (aborrecidos) com a situação, levando muitas a vezes a que as pessoas acabem por “garrear” (discutir) umas com as outras e a fazerem grandes “descabeches” (alaridos).

“Ainda-bem-não” (regulamente) as pessoas têm que puxar pela “mona” (cabeça) para se desenrascarem quando muitas vezes a solução dos seus problemas está mesmo “escarrapachada” (bem visível) à sua frente.

Não estou “repesa” (arrependida) de ter escrito esta pequena crónica, com vista a lembrar detalhes do património oral que nos é tão próximo e muitas vezes de “bradar” aos céus. “Dei fé” (pesquisei) a algumas expressões e tentei não vos criar, a vós leitores, uma grande “moenga”, apenas quero que guardem algumas destas expressões na vossa “alembradura” (lembrança)!

10 comentários:

  1. Gostei muito de conhecer alguns regionalismos do Alentejo.
    Um abraço.
    Élys.

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  2. Ah valente, assim é que é! Se Évora fosse logo ali, eu ia lá mais vezes e empanturrava-me com uns petiscos alentejanos. E emborcava uns canecos do Redondo, de Reguengos, ou mesmo de Borba. Da Vidigueira não que é um cadito mais longe.

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  3. Estes detalhes do património oral são deliciosos! Muito obrigada pela partilha :)

    r: Ter jeito para contar piadas faz toda a diferença

    Resto de boa noite*

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  4. Pois que estã quase todas ecarrapachadas na alembrendura há munto tempo, compadre :)))
    Aquele abraço

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  5. Tenho um colega alentejano que fez uma espécie de mini dicionário com palavras que só se ouvem no Alentejo embora eu pense que provavelmente eram faladas em todo o território. E digo isto porque várias palavras que hoje só se ouvem aos alentejanos, mina avó Carmo sempre as disse e só uma vez saiu da sua aldeia na Beira Alta para passar o Natal com os filhos no Barreiro, onde esteve apenas quatro dias. E ela nunca esteve arrependida, estava "repesa" palavra que meu pai também sempre disse, mas não falo dele porque vivia no Barreiro terra onde havia muitos alentejanos. Do vocabulário da avó Carmo, faziam ainda parte a "mona" o "amanha", palavra que meus pais também diziam e que eu mesma aprendi a dizer em vez de arranjar. Ainda hoje eu digo que vou amanhar o peixe em vez de arranjar. Daí que eu pense que a fala dos alentejanos já tenha sido de todo o país, e que apenas tenha sido preservada no Alentejo.
    Abraço

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  6. Cada terra com o seu uso :))

    "Dando asas ao coração"

    Bjos
    Votos de uma óptima Terça - Feira.

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  7. A nossa língua é riquíssima, seja no Alentejo, o Mirandês no Norte, no Algarve ou no Centro, somos um país pequeno mas grande na cultura tradicional! Sou um português orgulhoso.

    O meu abraço

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  8. Até eu que não sou alentejana conheço a expressão "abalar".

    Bjxxx
    Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

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