terça-feira, 20 de novembro de 2018

"ALBERNOA"

Ai ai meus senhores nesta vida que é tão boa,
com as mãos nas algibeiras, ao passar por Albernoa
ouvi cantar as janeiras. Ouvi cantar as janeiras
Ai ai nesta vida que é tão boa.
 Albernoa Baixo Alentejo. Outrora do latifundiário
nesta vida que é tão bela, nesta vida que é tão dela
cada vez gosta dela. Neste pais que é tão pequeno.
Ai ai meus senhores, não sei onde cabe tanto larápio.
Onde cabe Tanto larápio, sim senhor pois então.
Tenho saudades do Alentejo,
da terra que me viu nascer, às escuras, sem luz.
Sem luz acredito. Acredito, Como outrora havia, 
no Alentejo já não há pão. Alentejo terra de trigo,
considerado que foi, outrora, o celeiro da Nação.
Semeado na terra lavrada, a rigor.
A rigor, não andor. Andor diz-se a quem descontente
está aqui. Então que vá embora. Mas não no andor
que transporta a Santa Nossa Senhora Virgem Maria
mãe de Jesus. Mãe de Jesus, reza a história,
pelos traidores foi crucificado, na cruz.
 Glória ao Pai, ao Filho  e ao Espírito Santo, amém
Amém, sempre assim foi é, e será?
a hora é para todos, a merenda para quem a tem!
(Edumanes)

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

"NO CÉU AZUL"

Já não têm conserto,
barulhentas altas vozes
alvoroço, desassossego
estão gastas as artroses!

Com a chuva em repouso,
está um dia soalheiro
neste mundo maravilhoso
o Sol brilhar, no céu, vejo!
(Edumanes)

domingo, 18 de novembro de 2018

"PRAIA DESERTA"

Bem se sentindo com a sua beleza,
debruçada no parapeito da janela
com alegria, disse adeus à tristeza
sem que algo pudesse fazer por ela!

 Virgulina, mulher bela,
apaixonada pelo Virgulino
num encontro amoroso
já depois do sol posto
como quisera o destino
que fosse numa praia deserta
com as ondas em alvoroço.

Num bailado arrebatador,
à luz da Lua no céu prateada
numa louca paixão de amor,
de estrelas luzentes cercada!

Corpos unidos um no outro
por afectuoso relacionamento
não há nada mais maravilhoso
do que um amor ternurento!
(Edumanes)

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

"O SOL NO CÉU, NA TERRA AS FLORES"

Contrariar não pretendo,
quem não pensa como eu
do que agora noutro tempo
em Portugal pior se viveu!

De noite e de dia,
sendo mais a tristeza
menos era a alegria
vivida na incerteza!

Não só por falta de electricidade,
aqui em Portugal, vivia-se às escuras
impostas pela dita, dura austeridade
mais tormentosas eram amarguras!

Não tenho desse tempo,
nenhumas saudades
mais liberdade agora tenho
para dizer as verdades!

Sem medo sejam ditas, entendo,
para quem nelas, ainda, acredita
mentiras dizem-se no Parlamento
só aos deputados enchem barriga!

Navegam os barcos no rio,
são mais do que meia dúzia
deputados, mais compadrio
nunca se viu tanta balbúrdia?

Mesmo assim sendo,
no meio de tanta batota
melhor agora se vivendo
do que se vivia outrora!

Para quem quiser acreditar,
nestas verdades que escrevi
tenho uma casa para morar,
 Novembro mês de pagar IMI!

 Está na moda do mais pagar, 
cada vez menos se recebendo
por entre as flores a caminhar
aqui na terra vendo a brilhar
o Sol no céu azul me contento!
(Edumanes)

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

"VALE A PENA VER E OUVIR"

Da cepa de uma videira,
não para me emborrachar
bem sentado numa cadeira
não alérgico à trabalheira
fiz um cachimbo para fumar!

Para isso foi preciso ter habilidade,
tenho alguma, não me estou gabando
mas, se houvesse mais solidariedade
menos gente estaria protestando?

Quanto mais atafulhava de tabaco a fornalha,
mais parecia o comboio a deitar fumo pela chaminé
logo me fez lembrar, em Angola, do comboio Mala
sobre os carris entre as montanhas fazendo banzé!

Viajei nele de Silva Porto-Gare até à cidade do Luso-Luena,
nele regressei à cidade de Silva Porto-Gare, actualmente, Kuito
do que o Camacouve tinha mais luxo,  bem que valeu a pena
aquele pais que outrora foi colónia portuguesa ter conhecido!
(Edumanes)

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

"URZE"

De uma cepa fiz um pião,
de fios de linho fiz um cordel
num talego vazio sem farnel
para a merenda não havia pão!

Sempre houve e há descontentamento,
sempre houve e haverá arrogância,
a viajar, continuam no pensamento
 lembranças, essas, da minha infância!

Nada disso estou inventando,
sem azeitonas um corno vazio
pelas faces corriam-lhe a fio
lágrimas dos olhos chorando!

Um alentejanito dizia,
tenho fome, ó! mãe dá-me pão
nos olhos, com lágrimas de tristeza,
magoado sentindo o seu coração
não filho! Sua mãe respondia. . .
O pão é para o teu pai comer
logo à noite, quando chegar do trabalho
com um feixe de lenha enfiado na cabeça!
(Edumanes)
"Em algumas zonas do Baixo Alentejo. Era costume os homens à noite regressarem do trabalho com um feixe de lenha às costas.  Para acenderem o lume e nele, ao serão, se aquecerem".

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

"ALENTEJANISMOS...COM TRADUÇÃO"

Texto que Maria Florindo, professora do 1.º ciclo do Ensino Básico e da Universidade Sénior de Évora, publicou no jornal alentejano Tribuna Alentejo (14/08/2014), acerca dos regionalismos alentejanos.


Eu - Abalei às 15h…

Ele - Tu o quê??

Eu - Abalei…

Ele - O que é isso?

Eu - Ora, fui-me embora…

Todo o bom alentejano “abala”, para um sítio qualquer, que normalmente é já ali. O ser já ali é uma forma de dizer que não é muito longe, mas claro que qualquer aldeia perto aqui no Alentejo está no mínimo a cerca de 30km. Só um alentejano sabe ser alentejano!

Um alentejano “amanha” as suas coisas, não as arranja, um alentejano tem “cargas de fezes”, não tem problemas, um alentejano vai “à do ou à da…” não vai a casa de…, um alentejano “inteira-se das coisas” não fica a saber… No Alentejo não há aldrabões há “pantomineiros” e aqui também não se brinca, “manga-se”.

No Alentejo não se deita nada fora, “aventa-se” qualquer coisa e come-se “ervilhanas” ou “alcagoitas” (amendoins) e “malacuecos” (farturas). Os alentejanos não espreitam nada nem ninguém, apenas se “assomam”… E quando se “assomam” muitas vezes podem mesmo ter dores nos “artelhos” (tornozelos)!

As coisas velhas são “caliqueiras” e muitas vezes viaja-se de “furgonete” (carrinha de caixa aberta), algo que pode deixar as pessoas “alvoreadas” (desassossegadas). Quando algo não corre bem, é uma “moideira” (chatice) e ficamos “derramados” (aborrecidos) com a situação, levando muitas a vezes a que as pessoas acabem por “garrear” (discutir) umas com as outras e a fazerem grandes “descabeches” (alaridos).

“Ainda-bem-não” (regulamente) as pessoas têm que puxar pela “mona” (cabeça) para se desenrascarem quando muitas vezes a solução dos seus problemas está mesmo “escarrapachada” (bem visível) à sua frente.

Não estou “repesa” (arrependida) de ter escrito esta pequena crónica, com vista a lembrar detalhes do património oral que nos é tão próximo e muitas vezes de “bradar” aos céus. “Dei fé” (pesquisei) a algumas expressões e tentei não vos criar, a vós leitores, uma grande “moenga”, apenas quero que guardem algumas destas expressões na vossa “alembradura” (lembrança)!

sábado, 10 de novembro de 2018

"MESMO, EM TEMPO DE PAZ"

Quem na incerteza
 espera desespera,
 à conta da pobreza
 a riqueza prospera!

Na terra semeadas,
cantarolando mais bela
se torna a vida no campo
sobre flores e verdes searas
vendo as borboletas voando
já pensando na Primavera
ainda agora no Outono!

Há coisas que não sendo capaz,
entre aquelas que não percebo
uma delas é os soldados da paz
 declararem guerra ao governo?
(Edumanes)

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

"A TENDA DO JOÃO"

Quatro alentejanos costumam ir pescar há muitos anos, sempre na mesma época, montando um acampamento para o efeito.

Este ano, a mulher do João bateu o pé e disse que ele não ia. Profundamente desapontado, telefonou aos companheiros e disse-lhes que, desta vez, não podia ir porque a mulher não deixava.

Dois dias depois, os outros chegaram ao local do acampamento e, muito surpreendidos, encontraram lá o João à espera deles e com a sua tenda já armada.

– Atão, João, comé que conseguisti convencer a tua patroa a deixar-te viri?

– Bêm, a minha mulheri tên estado a ler “As Cinquenta Sombras de Grey” e, ontem à nôte, depois de acabar a última página do livro, arrastô-me para o quarto. Na cama, havia algemas e cordas!

Mandô-me algemá-la e amarrá-la à cama e opois disse: Agora, faz tudo o que quiseres…


E Ê … VIM PESCA

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

"PATO MARRECO"

Já não se ouve o Cuco cantar em Março,
nem a Rola se ouve como se ouvia em Abril,
 outrora no Monte de Alguidares de Baixo
  como símbolo à entrada tinha um canzil!

Diziam que era de uma canga,
que não estava sendo utilizada
no cachaço dos bois ganhou fama
sem penalizações foi reformada!

A um passo de gigante,
no Monte do Vale Travesso
havia uma Vaca elegante
e um Pato Marreco!

Uma galinha coscuvilheira,
um Papagaio e um Melro.
Estranhando a certa altura
por não ouvir o Melro cantador,
o papagaio resolveu porventura
perguntar à galinha coscuvilheira
se sabia onde estava o impostor!

Cua cua, interveio o Pato Marreco,
aqui no Monte ouviram-se rumores cua cua
que esse mariola por se armar em esperto
esteve na gaiola mas já lá não estará?
(Edumanes)