terça-feira, 3 de outubro de 2017

"TERRA RESSEQUIDA"

Ai ai meus senhores,
esta terra tem sede
sem trigo não há pão
se nesta terra chovesse
desabrochavam as flores
e os cravos em botão!

Falta de água a terra sente,
fustigada pela seca prolongada
quando ausente, não presente
do amor mais se sente falta!

 Sofrem mais os corações,
de quem falta de amor sente
segundo rezam as provisões
Outono continuará quente?
(Edumanes)

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

"UM PAR DE BOTAS"

Há quem tenha sorte na vida!
na rifa me saiu um par de botas
antes queria sofrer pelo Benfica
do que duma dor nas costas!

Dolorosa, má de gramar,
do meu território para fora
bem eu a tento expulsar
 teimosa, não quer ir embora!

Se ela por aqui continuar,
dizer, não sei até quando
por tanto me apoquentar
descontente estou ficando!

Consultei o tchimbanda,
com milongo a acalmou
não contente a magana
sem ser desejada voltou!
(Edumanes)

domingo, 24 de setembro de 2017

(SÃO MIGUEL DOS GÉMEOS)

SÃO MIGUEL DOS GÉMEOS é uma pequena freguesia onde em tempos havia apenas uma capelinha dedicada a S. Miguel Arcanjo.
Diz uma lenda que junto a essa capela viveu um lavrador rico cuja mulher deu à luz um par de gémeos monstruoso, pois nasceram com duas cabeças, quatro pernas e um só ventre. O casal teve um grande desgosto, tanto mais que foram os únicos filhos que lhe nasceram.
Apesar de tudo, estas crianças foram-se criando e, desde muito pequenas, mostraram um amor profundo pelo campo. Por isso todo o tempo que viveram-trinta anos, segundo a lenda-trabalharam na agricultura, patenteando um carinho inexcedível pela terra e pelas plantas.
Conta-se que na altura em que morreram, uma das cabeças faleceu três dias antes do resto do corpo. Nessa altura, os pais, que como já disse não tinham outros herdeiros, fizeram um testamento no qual legavam todos os seus bens à capela de S. Miguel, com a condição de se ficar chamando à freguesia S. Miguel dos Gémeos, em memória daqueles filhos estranhos e disformes que tinham tido.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

"BEM VINDO SEJA O OUTONO"

No marmeleiro empoleirada,
estava uma moça sem chinelos
quando fui à tarde colher marmelos
para à noite fazermos marmelada!

Sem nuvens, olhei para o céu,
só consegui ver até à bifurcação
descalça de pernas ao leu
atirando marmelos para o chão!

Foi por sorte minha, 
nenhum me acertou na tola
dois marmelos ela tinha
debaixo da camisola!

Descendo do marmeleiro,
segurei na sua mão
ao pôr os pés no chão
sorrindo, pela sua atenção
 disse, obrigado cavalheiro!
(Edumanes)

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

"ESSA FLOR"

Nos teus, lindos, olhos vejo,
neles, a luz da  paixão
Alentejo, meu Alentejo,
trago o Alentejo no coração!

Das tuas mãos, recebi com amizade,
uma pêra doce ao romper da bela aurora
nos teus lábios dou beijos de felicidade.
quando a tua mãe dali se for embora!

Ainda moça solteira,
para te ver lá no monte
debaixo duma figueira
fui beber água à fonte!

De repente um Texugo,
sem autoridade superior
junto a um pedregulho
para ti, colhi essa flor!
(Edumanes)

terça-feira, 19 de setembro de 2017

"RUMO À MERENDA"

Zanguei-me com o trabalho,
não o vi em todo o dia
à noite dormi sossegado
no corpo, nada me doía.

 Por serem alérgicos à vida dura,
os ricos mandam, os pobres trabalhar
enquanto os loucos vivem na loucura
os políticos gozam a vida a passear.

Sendo essa a realidade,
de quem vive neste mundo
entre a mentira e a verdade
 para a verdade eu rumo.

Queijo e presunto,
com pão à merenda
 bom tinto do garrafão
 para ajudar na digestão
 boa vida não apoquenta!
(Edumanes)

domingo, 17 de setembro de 2017

"FELOSA DAS FIGUEIRAS"

 Nas margens do rio torto,
 eu vi uma borboleta voando
com fama de ser preguiçoso
um alentejano trabalhando!

 Ouvi a filha da cabra berrar,
 recém nascido vi um perdigoto
  no vai e vem, a formiga sem parar 
 de papo p'ro ar, um gafanhoto!

De papo amarelo não vi lá o Papa Figo,
estava lá a Felosa empoleirada na figueira
como outrora, no Alentejo já não há trigo
mas, ainda, há boa pinga na Vidiguera!

 Terra do bom e muito azeite, Moura,
 para pôr no cafei, tiraram o i ficou azete
com a pressa tropeçaram na rasoira
para o chão entornaram o lete!
(Edumanes)

sábado, 16 de setembro de 2017

"BOM FIM DE SEMANA"

Um beijo especial,
dos lábios se libertou
nas ondas do mar alto
nadando são e salvo
deu à costa no areal.
Numa praia tropical
de manhã acordou
nos lábios duma morena
vagueando em câmara lenta
eram p'raí oito e coisa nove e tal!
(Edumanes)

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

"O PRISIONEIRO"

Prende-me numa prisão,
onde exerces a profissão de carcereira
numa sala com televisão
 no inverno para me aquecer uma lareira.
Eu te suplico, trata-me com afeição
por favor, não me faças a vida negra!

Não me dês sermões,
dá-me, antes, beijinhos
só nós os dois aos serões
um ao outro agarradinhos!

Com as tuas, meigas, palavras,
só tu, mulher carcereira, me contentas
com essas tuas mãos delicadas
nos pulsos coloca-me as algemas!

A pena máxima me condena,
se eu cometer o crime de violação
dentro do peito, preso, tens o teu coração
junto dele quero cumprir pena!
(Edumanes)

terça-feira, 12 de setembro de 2017

"SILÊNCIO, NÃO INCOMODAR"


Uma dor adormecida,
quando acorda insatisfeita
incomada como a política
na minha perna direita!

Tenho de ser tolerante,
tratá-la com meiguices
porque, se eu for arrogante
ela me causa mais chatices.

Se eu a contrariar,
logo me chama a atenção
 para eu pensar no bem estar
do meu, amigo, coração!

Em frente continuarei,
sem poder voltar para trás
se é que eu não a injuriei
que me deixe viver em paz!

Com ela tenho de viver,
enquanto por cá andar
se eu nasci para obedecer
não nasci para mandar!
(Edumanes)