sábado, 25 de novembro de 2017

"CONCERTINA"

Quando outrora fui à festa,
da festa voltei dançando
agora aqui a estou ora essa
com saudades, recordando.

Aquela música que lá ouvi,
com as suas brilhantes teclas
todas as concertinas que lá vi
jamais me esquecerei delas.

Fui de noite e voltei a pé,
por uma estrada de terra
vi no mar um barco à vela
 navegando ao sabor da maré.

Não tinha lama, tinha poeira,
 no mês de Agosto aconteceu
 galinhas cararejavam na capoeira
de manhã quando o sol nasceu.

Bem à sua maneira repimpado,
lá estava o galo no, seu, poleiro
conduzia as ovelhas para o prado
o pastar na herdade do Pardieiro!

Com o cigarro na boquilha,
para o ar deitando fumaça
assim no campo era  a vida
enquanto a luz não se apaga
termino com esta quintilha!
(Edumanes)

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

"NO MAR, NA TERRA OU NO AR"

Sendo a saúde um tesouro,
vale mais do que diamante
de manhã, da cor do ouro
desponta o sol no horizonte.

Luz na terra emanando,
sem ter de nos obedecer
no céu azul, o sol brilhando
toda a gente gosta de o ver.

Só por aberrante disparate,
de quem com nada se contenta
de manhã,  quando o sol nasce
toda a gente o contempla!

Rogo a Deus Nosso Senhor,
desta gente não se esqueça
para que o sol fonte de calor
aqui terra sempre nos aqueça!
(Edumanes)

terça-feira, 21 de novembro de 2017

NAS PÉTALAS DESSA FLOR"

Assim, hoje,  comecei o dia, 
nas pétalas duma flor escrevi o mote
logo de seguida algo mais fiz;
 com pachorrenta acalmia!
Tropecei numa cadeira dei um pinote
grande sorte foi, mesmo,  a minha,
por não ter batido com o nariz
na porta do armário da cozinha!

Abri a janela,  olhei para a rua,
de que tudo na vida a saúde tem mais valor
no céu azul vi o sol, não vi a lua
tudo, na mesma, como no dia anterior!

Pensei,  de certeza que não me engano,
será que alguém disso, ainda,  tem duvidas
ouvindo quem por tudo e de tudo reclamando
 sempre as mesmas jeremiadas lamurias!

Todos os dias oiço é costume,
sempre as mesmas cantilenas
 tenham menos ou mais perfume
 gosta das loiras e das morenas!
(Edumanes)

domingo, 19 de novembro de 2017

"NEM UMA"

Se amanhã o sol não nascesse,
ai de nós o que seria
se na terra mais não chovesse?

Sem nuvens no céu,
aqui na terra não chove
São Pedro se esqueceu
de sede Portugal sofre!

Das dores não adianta,
por isso não me queixo
nem escura nem cinzenta
no céu, nuvens não vejo!

No campo e no jardim,
continuam os clamores
mais um dia chega ao fim
com sede estão as flores!

Aqui, nos oiça São Pedro,
no campo não há erva verde
sem água na terra desespero
não nos deixa morrer à sede!
(Edumanes)

terça-feira, 14 de novembro de 2017

"LENDA DE MOURA"

A alentejana Vila de Moura foi conquistada por Afonso Henriques, no ano de 1166. Ao seu nome anda ligada uma velha história de amor e morte que,  para que ninguém a esqueça, ficou gravada no brasão de armas da vila.
Segundo a lenda, esta vila chamava-se, no tempo dos mouros, Arucci-a-Nova, assim como a futura cidade espanola de Arronches era denominada Arucci-Vetus, ou seja, Arucci-a-Velha!
Ora Arucci-a-Nova era na altura uma pequena vila árabe que, depois de uma surtida de cristãos, tivera de ser reconstruída. Era seu senhor  Abu-Assan, que lhe mandara fazer novas e fortes muralhas nas quais incluíra uma formosa torre circular, em cujo minarete flutuava o pavilhão sagrado do Islão. Rico Senhor, Abu-Assan, depois de recontruída a vila, entregou-a à sua filha predilecta, Sasúquia, e voltou para o palácio de Córdova. Salúquia ficara, pois, alcaidessa de Arucci-a-Nova. Não longe dali, em Arucci-Vetus, estava Brafma, o príncipe mouro do qual Salúquia estava noiva, e apaixonada.
Era de tarde. E,  como todas as tardes Salúquia estava na torre do miranete entretendo as horas com as suas escravas e companheiras Fátima e Zuleima. Mas esse era um dia especial: era a véspera das suas bodas. No entanto, o olhar de Salúquia estava triste, estranhamente triste, e as escravas interrogavam-se silenciosamente sobre a razão daquela tristeza. Porque, na realidade, a sua senhora amava de verdade o homem que o destino e a vontade de Abu-Assan lhe davam para marido. Por isso, naquela tarde,  o sol morria lá longe, lá para os lados do mar  e, no alto do miranete, o silêncio era desusado. Em vez das alegres vozes que habitualmente soavam contando velhas lendas e histórias de amor e guerra, só se ouviam as cigarras cantando, longa e interminavelmente, o seu hino à terra e ao sol.
Contudo o silêncio, Fátima, a moura dos olhos azuis, murmurou:
-Salúquia, quando o luar tiver beijado as ondas do mar e o sol abrir de novo as portas do Oriente, teu noivo estará entre nós.
-Que Alá o permita!
-Mas porque está hoje tão triste? -perguntou com suavidade Zulmeia .
-Por muito o amar e por muito temer-murmurou Salúquia, que todo o dia se debatera com um negro pressentimento.
E Fátima, cheia de confiança, exclamou :
-Alá protege-o, e além disso os cristãos estão tão longe!...
Zulmeia, virada para Oriente, relembrando ainda o caminho por onde chegara, trazida como escrava por Abu-Assan, indicou:
-Dali virá, com o mouro da aurora por detrás! E Salúquia, apoiada na muralha, alongou o seu olhar pelo horizonte como que procurando um ponto móvel e desejado, deslocando-se na sua direcção. Fátima, um pouco perturbada por aquele silêncio quase total, embriagada pelo perfume das laranjeiras e roseiras floridas, iniciou uma velha lengalenga, outrora cantada pela sua velh escrava Zara, que há muito fora cantar para Alá, no Paraíso. A alcaidessa escutava-a distraída, com o pensamento percorrendo as dez léguas que separavam de si o seu bem amado Brafma.
Este por seu lado, deixara Arucci-Vetus ao cair da tarde, numa caravana luxuosa e feliz. Também ele amava aquela noiva que lhe davam, e assim o sol-poente, que punha fulgurações de sonho na predaria dos turbantes e nos arreios de ouro e prata dos cavalos, emprestava ao seu corpo um desassossego inusitado. Mas, conforme a noite avançava e a lua ia subindo sorridente no céu, o trotar dos cavalos foi esmorecendo pouco a pouco.
Faltaria gtalvez uma légua juntar Brafma a Salúquia quando o sol saudou do Oriente. A comitica, novamente a galope, atravessava um vale verdejante quando subitamente, os cavalos estacaram, relinchando nervosos. Ao longe avançava uma nuvem de poeira, de dentro da qual rebrilhavam ao sol nascente armas desembainhadas.
Bem sabiam os árabes que vestidos de festa como vinham, com ricas armas simuladas e cavalos pouco próprios para combate, não poderiam certamente vencer os cristãos que se aproximavam, preparados para a guerra. Mas Brafma exclamou:
-São cristãos! Vamos a eles e que Alá nos proteja! Antes porém, e adivinhando que não sobreviveria àquele combate desigual - via agora que os cristãos eram muito mais numerosos e bem armados, prontos para combate - tirou do peito uma rosa branca que colhera no seu jardim para oferecer a Salúquia, beijou-a e, escondendo-a numa algibeira som o manto junto ao coração, pediu:
-Se alguém se salvar,  leve esta rosa a Salúquia. - E desembainhando o alfange de ouro, gritou: -Agora irmãos...é a morte! Alá assim o quis! 
Dois irmãos, Álvaro e Pedro Rodrigues, comandavam a hoste cristã. Lutavam por conta própria, entregando depois ao seu rei as fortalezas conquistadas. Desta vez, apesar de os mouros se terem batido valentemente, foi-lhes fácil a vitória. Nenhum homem sobreviveu e Brafma morreu de uma cutilada de Álvaro Rodrigues.
Findo o combate, os cristãos, cuja finalidade era a conquista de Arucci-a-Nova, iniciaram um longo concidiábulo sobre o melhor meio de assaltarem a vila. Aquele grupo que acabavam de destruir, trajado de festa  e armado de ouro e prata, num descampado pela madrugada, a caminho da vila, fê-los adivinhar ao que vinham. Por isso decidiram envergar as suas roupas e tentar penetrar na vila de surpresa. Os cavaleiros cobriram as suas cotas com os albornozes de seda os cadáveres e Ála varo escolheu para si o manto de Brafma. Montaram a cavalo  e, num ápice, fizeram a légua que os separava de rucci-a-Nova, atroando os ares com gritos de simulação festiva e exclamações árabes de saudação e alegria.
No alto da torre da vila, o atalaia viu aproximar-se um turbilhão de poeira. Pensando ser a caravana nupcial, informou Salúquia, que, num ímpeto de alegria, ordenou que se abrissem as portas do castelo. Ela, com todas as escravas e amigas, subiu ao alto do minarete, para daí atirarem sobre Brafma uma nuvem de pétalas de rosa.
Entraram os falsos mouros como uma rajada de sangue. Impossível resistir ao seu ímpeto.  A população, porém, quando percebeu o ardil, tentou a todo o custo impedir que os cristãos chegassem ao palácio de Salúquia. Esta, pálida mas serena, sem lágrimas já para chorar, mandou encerrar as portas do seu palácio. Trouxeram-lhe as chaves no momento exacto em que os irmãos Rodrigues chegavam às suas portas. Vendo que os cristãos se preparavam para as arrombar,  Salúquia, lentamente, cheia de dignidade, subiu ao ponto mais alto do minarete, apertou as chaves numa das mãos  e, elevando uma prece a Alá, num impulso rapidíssimo atirou-as para o vazio. Um imenso grito doloroso soou de todas as bocas:  «Salúquia!!»
Por momentos, logo depois do baque do corpo no chão do terraço, pararam mouros e cristãos, parou a própria Natureza. Na esplanada do castelo estava agora o corpo da moura apertando as chaves numa mão. Um fio de sangue escorria mansamente da sua boca entreaberta.
Correu um cristão com o intuito de lhe arrebatar brutalmente as chaves, mas um gesto de Álvaro Rodrigues deteve-o. Esmagado pela heroicidade daquela mulher, curvou-se para lhe limpar do rosto belíssimo o sangue da sua própria traição. Nesse momento, da dobra do manto de Brafma caiu uma rosa branca, estranhamente manchada de sangue, que foi pousar suavemente sobre os lábios frios de Salúquia. A flor cumpria aderradeira súplica do mouro enamarado e trazia-lhe o beijo nupcial. 
Álvaro Rodrigues, impressionado, desbarretou-se num gesto delicado de respeito. Ordenou que cessasse a chacina  e pediu a seu irmão que trouxesse o corpo retalhado de Brafma para que juntos pudessem viajar até ao paraíso de Alá.
E, como preito imortal, proclamou que a partir desse dia Arucci-a-Nova se chamaria Vila da Moura.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

"DA TERRA DISTANTE"

No Céu Azul, sem nuvens, brilha o Sol,
carregadas de água à vossa espera 
voando sem turbulência estol
venham, nuvens, regar esta terra.

Venham com normalidade,
das nuvens as vossas lágrimas
que as espera com ansiosidade
sobre esta terra derramá-las.

 Temperaturas a descer,
enquanto a chuva se demora
na terra sem água para beber
jamais te poderás esquecer
desta gente que te adora!
(Edumanes)

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

"ATÉ QUE ENFIM"

A chuva está chegando,
sem se perder a esperança
quem não desesperando
espera sempre alcança!

 Nas palavras que leio,
e noutras que escrevo
nos espaços entremeio
 pontos e virgulas vejo!

Algumas fazem parte
do passado longínquo,
 em dias de tempestade
passa o vento zunindo!

Oiço vozes bradando,
sem saber o que pretendem
 outras vezes, porquê, chorando
será que saudades sentem?

De intimas emoções,
abandonadas ao acaso
outrora no descampado
enterneceram corações!

Esta noite sonhei com a alegria,
de manhã acordei com a felicidade
para entrar a fresca maresia
e do dia a claridade!

Do quarto abri a janela,
lá fora está chovendo
 com pouca intensidade
das nuvens caindo na terra
gotas de água estou vendo!
(Edumanes)

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

"NAVIO PÁTRIA"

“Recordando o passado. Vivendo o presente. Com esperanças no futuro"

Se amigo não engana amigo. Amigo ajuda amigo quando amigo precisa de ser ajudado. Foi isso que aconteceu. Um amigo ao seu amigo, emprestado pediu dinheiro. Dizendo só te pago no dia de "São Nunca à Tarde". Pelo que o amigo emprestador, no dia 1 de Novembro se dirigiu a casa do seu amigo pedinte. Afim de receber o dinheiro, antes, emprestado. O qual amigo seu repetiu, o que antes tinha dito. Amigo eu disse-te que só te pagava no dia de "São Nunca à Tarde". É isso mesmo amigo. Não me esqueci. Hoje é dia de TODOS OS SANTOS!  

O dia antes de ontem, ontem passado era,
hoje, o dia de ontem faz parte do passado
a milhares de quilómetros daqui, faz hoje anos
metade de século mais quatro, do mar para terra
em Nacala, estava desembarcando de um barco!

Por ti, minha, Pátria amada,
recordando esse dia, hoje, estou aqui
onde desembarquei do Navio Pátria
  para te defender, longe daqui!
(Edumanes)

terça-feira, 31 de outubro de 2017

"DESÂNIMO"

 Se por algum desgosto,
 ou, quando o sacrifício
 não compensa o esforço
 para os fins despendido!

Atirar-se do precipício,
 lá para o fundo do poço 
sem p'ro qual haver motivo
desse, tão, desunido povo
algures no mundo indeciso!

Para viver em liberdade,
não impeçam de escolher
sem de outrem depender
sendo essa a sua vontade!

Preso nas garras do, real, poder,
porque, tem de viver encabrestado
poderá, se ao qual não obedecer
por crime de rebelião condenado!

Não te deixes adormecer,
ó! Povo até demasiado tarde
custe o que custar tens de vencer
se quiseres viver em liberdade!

Liberta-te das garras,
tens direito ao teu lugar
não pagues alvissaras
a quem te está a sugar!

Com a tua voz não roca,
não há tempo a perder
com inteligência apregoa
faz já o que tens a fazer!

Do teu lado tens a razão,
porque o fazes com lealdade
luta contra a desonestidade
para que não te tirem o pão!
(Edumanes)

sábado, 28 de outubro de 2017

"COISAS DO DESTINO"

Já estava d'abalada,
a caminho de Lisboa
depois de palmada
chegou à Madragoa!

Ouviu cantar o fado,
e uma guitarra a trinar
ela se estava a lembrar
do seu Alentejo amado!

Com saudades do campo,
das ovelhas e das cabras
do seu bem amado alentejano
 triste, limpando as lágrimas
olhou para trás chorando!

Para os seus braços já voltou,
foi recebida com abraços e beijos
para sempre a união se celebrou
por vontade dos seus desejos!
(Edumanes)