"CAMPO DE TRIGO"

Quando eu nasci com os meus pés descalços,

ainda agora estou aqui pensando cá com a minha mioleira

já os putos de pé descalço corriam atrás duma bola feita de trapos

enrolados em forma de novelo dentro duma meia!

Uns jogavam ao pião,

 outros tocavam realejo

comiam azeitonas com pão

pensando no queijo!

Todos os anos na primavera,

 homens e mulheres ceifavam o trigo louro

nas minas debaixo da terra

 os mineiros  em busca do ouro!

No campo o camponês,

na terra trabalhava

enquanto por sua vez

um alentejano mais sabido

em silêncio pensava!

Tentanto compreender,

porque é que aqui há tanto trigo

e ainda há gente pobre

de sol a sol trabalhando

passando fome

sem ter pão para comer!

(Edumanes)

"PÔR DO SOL"

Sempre terá sido assim,

jamais se consegue evitar
contra tudo o que em fim
de nada adianta protestar!

Já não vejo como via,
já não ando como andava
já não faço o que fazia
no fim é que tudo acaba!

 Quem pensa que não
está enganado 
com a ilusão
anda de braço dado!

Exibindo gentileza,
sorrindo de alegria
encantado com a beleza
no mundo da fantasia!

(Edumanes)

"PASSAGEM DUMA P'RÁ OUTRA BANDA"

Vejo da minha janela

a ponte Vasco da Gama

no Rio Tejo correr água

vejo por baixo dela;

beijo quem me abraça

na cama durmo com ela!

Arrasos d'uma união,

de sonhos e planos

uns realizados outros não

 há quase cinquenta anos!

Que jamais se esqueceram,

longe daqui, num clima tropical

bons momentos, lá, se viveram

onde outrora se defenderam

os ideais interesses de Portugal!

(Edumanes)

"POR UM CANUDO"

A sacrifícios estou habituado,

a vida vale mais do que tudo

agora, em casa confinado

vejo o mundo por um canudo!

Vermelha ou amarela,

imagino por não saber

não estou farto dela

da vida, quero dizer.

A coxear duma perna

já não posso correr,

mas, por ser tão bela

com ela gosto de viver!

Só de pensar sinto enorme tristeza,

por da vida ter que me separar

contrariado, disso tenho a certeza

não sei quem por isso devo culpar!

Não vim ao mundo para regatear,

mas, nem sempre, disso, me contenho

no entanto, às vezes penso do que falar

o melhor será optar pelo sílêncio!

Meia palava basta,

para bom entendedor

pelo mundo o terror

cada vez mais alastra!

Mais prejudica a vida,

sendo essa a sua finalidade

serve para gerar confusão

concedida pela liberdade

a contra-informação,

não tem peso nem medida!

Na vida do que a saúde,

não há melhor acredito

sou pobre, não sou rico

a riqueza não me ilude!

(Edumanes)

"RECORDANDO AQUELA NOITE"

Vejo o Sol e vejo a Lua,

com os lindos olhos seus

quando passo na sua rua

já a não vejo à janela, 

no Outono, sem dizer adeus

partiu a flor mais bela!

Acordei estava nevando,

numa noite de muito frio

sobre o leito descansando

pude ouvir o seu cantorio!

Até de madrugada,

por muito me agradar

com atenção escutava

antes da noite acabar!

Naquela noite que passou,

tocaram os sinos no campanário

um Rouxinol cantou

sobre a cruz solitário!

(Edumanes)

" ARCO-ÍRIS TEM SETE CORES"

Por bem se entenda,

na minha opinião

penso que seja ofensa

 desprezar a tradição!

Por tudo o que apoquenta,

não pode haver desmazelo

sem que isso se pretenda

as dores causam desespero!

Por assim ser não duvido,

o desrespeito se condena

seja com tudo o que é preciso

  na vida bem viver vale a pena!

Por aqui continuarei,

enquanto o destino consentir

até quando, ainda,  não sei.

Não duvido da realidade

só sei que não torna a vir

quem na última viagem parte

para sempre, deixa de sorrir!

(Edumanes)

"BICUATAS"

Angola, Agosto de 1975, do Chinguar fui a Moçamedes, levar o carro e algumas bicuatas, para embarcarem num navio, com destino a Lisboa. Itinerário, passei por Nova Lisboa, Roberto Wiliam - Caála, Caconda e Sá da Bandeira, Serra da Leba e almocei no Caraculo. O carro embarcou no Navio Papacostas, mas, as bicuatas não. Calculo, por causa da confusão por lá  ficaram, abandonadas, à toa!

"LUANDA NO SÉCULO PASSADO"

Luanda, linda cidade,

onde outrora noite e dia

na Marginal junto à Baía

circulava a saudade!

Lembrança minha,

seu eterno admirador

Luanda, Cidade, Rainha

das acácias em flor!

Sua beleza encanta,

não apoquenta,

recordando Luanda

dos anos sessenta!

(Edumanes)

"SEARA DE TRIGO"

 Num sono profundo,

até sonhei ser feliz

cidadão do mundo

habitante deste país.

Andei sem parar,

mais de sete léguas

à procura de beldroegas

sem as encontrar.

Semeado na terra,

eu via o trigo crescer

ouvia os pássaros cantar

de manhã via o Sol nascer

a vida no campo como era

estou, aqui, a recordar.

 Entanguido com frio,

duma perna a coxear

a vida é um desafio

para em nada acabar!

(Edumanes)

"UNIVERSO CURIOSO"

 Sem ignorar o seu umbigo,

 aos demais não ser indiferente

seja pobre ou seja rico

o mundo a todos pertence.

 

Seja aqui, acolá ou além,

serão muitos e não poucos

o almoço é só para quem o tem

mas, o meio-dia é para todos.

Quem gosta de o mostrar,

não esconde o seu umbigo

qualquer um pode sonhar

sonhar nunca será proibido.

Só poderá certamente,

estar enganado

quem pensa diferente!

(Edumanes)