NÃO PORTUGUÊS, MAS PORTUGAL - DISSE FERNANDO PESSOA.
QUANDO TUDO ACONTECEU...
Em torno de 1500 nasce em Trancoso. - 1530 a 1540: Compõe suas trovas. - 1541: Julgado pelo Tribunal do Santo Ofício, condenado com uma pena leve. Retorna a Trancoso onde vem a falecer em 1556. - 1603: As trovas do Bandarra são impressas pela primeira vez, em Paris, por obra de D. João de Castro (Paráfrase e Concordância de Algumas Profecias de Bandarra, Sapateiro de Trancoso). - 1644: As trovas são publicadas por segunda vez, em Nantes. - 1809: As trovas são reeditadas em Barcelona, por ocasião das Invasões Francesas.
Sonhava, anónimo e disperso,
O Império por Deus mesmo visto,
Confuso como o Universo
E plebeu como Jesus Cristo.
Não foi nem santo nem herói,
Mas Deus sagrou com Seu sinal
Este, cujo coração foi
Não português, mas Portugal.
Fernando Pessoa, sobre o Bandarra
Desta figura, Fernando Pessoa chegou a afiançar: "O verdadeiro patrono do nosso País é esse sapateiro Bandarra. Abandonemos Fátima por Trancoso (...). O Futuro de Portugal − que não calculo mas sei − está escrito já, para quem saiba lê-lo, nas trovas do Bandarra (...). O Bandarra, símbolo eterno do que o povo pensa de Portugal".
De tão evidente, o seguinte verso do Bandarra poderá ter sido um dos seus derradeiros auspícios, cumprido e perpetuado que se encontra:
Em dois sítios me achareis,
Por desgraça ou por ventura:
Os ossos na sepultura,
A alma nestes papéis.
Melhor do que eu, que nem a taluda sei profetizar, Bandarra sabia o que predizia. Grande profeta ou não, em uma das suas coplas parece confirmar a continuidade do pretérito português:
Sou sapateiro, mas nobre
Com bem pouco cabedal:
E tu, triste Portugal,
Quanto mais rico, mais pobre.
De profeta, nada tenho. Quanto a saber do destino da muito querida Pátria, basta-me o aforismo: mais vale um bom desengano, que toda a vida andar enganado. ■
Eduardo disse;
Ambição, não é loucura!
Para viver melhor pudera
Gastar muito porventura
Portugal, assim quisera!
Pobre, pensando ser rico!
Já naquele tempo acontecia
Bandarra, viveu na Monarquia
profeta, sapateiro de ofício!