domingo, 17 de novembro de 2019

"TIPICA VILA ALENTEJANA"

Desde pequenina,
por ser como é sente brio
quando lá faz buzaranha
se sente incomodada
no Inverno sente frio
no Verão esturrina,
mas, ela não estranha
por já estar habituada!

Com o seu casario,
caiado de branco
na encosta junto ao rio
Odemira é um encanto!

 Beijada pelo Rio Mira,
sem perder o trambelho
no Baixo Alentejo, típica vila
Odemira é o meu concelho!
(Edumanes)

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

"BOM APETITE"

Muita gente reclama,
por causa das contas certas
enquanto outra gente mama
no pais das descobertas!

Há muito tempo mal cantada,
tenho ouvido essa cantiga,
à conta de quem menos ganha
contas certas há quem diga?

Para dar a quem tem fome,
se tiver sopa de beldroegas
para receber gente pobre,
continua de portas abertas!

Instalada a fatalidade,
 neste pais à conta da pobreza
sendo essa, mesma, realidade
mais prospera a riqueza!
(Edumanes)

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

"QUEM TEM CAPA NÃO SE MOLHA"

Da qual, ainda, não sei,
enquanto não for embora
iludido por aqui andarei
à espera da última moda!

As estrelas já tentei contar,
 sem conseguir, mais do que uma vez
  à noite no Céu sem fim se vêem brilhar
tão luzentes  como Deus as fez!

No Céu, a Lua anda a passear,
pelo Sol, sendo, perseguida
 por aqui já vejo nuvens a passar
deitando água a terra ressequida!

O vento forte já soprar,
no friso das janelas zunindo
até dizem que vai nevar
o frio já o estou sentindo!
(Edumanes)

terça-feira, 12 de novembro de 2019

"SUMO DE UVA"

Se for bebido com moderação,
tinto, branco ou rose, mal não faz
terror, morte e destruição
não havia, se onde não há houvesse paz.

Se em vez de fabricarem armas para matar,
dessem à vida das pessoas mais importância
muitas, outras, desgraças se poderiam evitar
porquanto no mundo já existe abundância.

Sendo o sofrimento, tão, doloroso,
não o sente quem aos outros mal faz
o Papa não se cansa de apelar à paz
mas, é mais forte o poder ganancioso.

Melhor para quem no mundo estiver,
será viver em segurança e liberdade
quando em todo o mundo paz houver
duvido que alguma vez seja realidade!
(Edumanes)

domingo, 10 de novembro de 2019

" O FOGAREIRO JÁ FUMEGA"

 Com castanhas e água pé,
está chegando S. Martinho
amanhã, com esperança e fé
vamos recebê-lo com carinho.

Para que haja muito e bom vinho,
na colheita deste anos e outros a seguir
não importa, seja branco ou seja tinto
  a abundância a todos nos faça sorrir.

São Pedro, que não se esqueça,
de água estamos precisando
com sede está sofrendo a terra
 mais no Sul onde está faltando.

Para evitar inundações,
mande-nos só o suficiente
pode sem causar aflições
 contentar toda a gente!
(Edumanes)

sábado, 9 de novembro de 2019

"ESSAS NÃO ENGANAM"

Numa viagem incessante,
o teu regresso meu desejo
onde estás que não te vejo
juventude de mim distante!

Sejas feliz com as tuas vontades,
se para mim voltar não pretendes
enquanto de ti eu sinto saudades
será que por mim já nada sentes?

Por que não me acompanhas,
com as tuas coisas maravilhosas
olha que no Alentejo há bolotas
 tão doces são como castanhas!

Não te armes em sonsa,
se de sonsa não tens nada
contenta-te com os teus bens
se deles faz parte a mangonha
com a genica que, ainda, tens
será que te sentes cansada?

Só estou perguntando,
perguntar não ofende
em ti continuo pensando!

São Martinho está chegando,
não tragas vinho, traz antes carinho
por ti, eu aqui, estou esperando!
(Edumanes)

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

"ADIVINHA"

Sejam, ou não sejam ciumentas. As mulheres são sempre belas. Redondinhas muitas há! Não são peras rocha. Também não são maçãs de Alcobaça. De preferência sumarentas. De manhã, descascadas, gosto mais delas?
Autor(Edumanes)

terça-feira, 5 de novembro de 2019

" LINDAS, SÃO TODAS AS FLORES"

Essa bonita flor, requintada de perfume e beleza,
pelas suas pétalas, perfumadas, me sinto encantado
com sede, às nuvens pedindo água desesperada violeta
no Rio Mira, serena, corre água para o mar salgado!

 Outrora foi terra de, muito, trigo,
sem pão para comer havia muita gente
no Alentejo, descampado, ressequido
onde o calor, do sol, mais se sente!

Violeta, do campo, linda flor,
de toda, sendo, a mais resistente
tendo resistido ao, intenso, calor
no Alentejo, da chuva ausente!
(Edumanes)

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

"QUANDO TINHA PRESSA"

Apressada, sem ter paciência,
tão desesperada continua a pressa
sem prestar atenção à advertência
disparada saiu pela porta aberta!

Quando eu era pequeno,
desse desejo constante,
enquanto via passar o tempo
mais pressa tinha de ser grande,
 por isso, agora, não devo reclamar
com o que tenho me contento,
para trás já não posso voltar!

Por aqui gosto de andar,
sem que tudo esteja vendo
porquanto posso imaginar
sem poder parar o tempo!
(Edumanes)

sábado, 26 de outubro de 2019

QUEM ERA MARIA CACHUCHA?

Uma reportagem “sensacional” a Maria Cachucha em 1942 👩‍🌾🥃🍖
Maria Purificação da Silva (1900-1960) popularmente conhecida por Maria Cachucha, trabalhava no Matadouro Municipal e causava admiração a forma como ela desempenhava tal profissão. Nessa época a única em Portugal que matava bois, com uma destreza impressionante.
«Quando nos falaram de Maria Cachucha de Torres Vedras, não acreditávamos.
Seria possível que uma mulher fosse magarefe num matadouro em Portugal?
Seria verdade que tivesse bigode como um homem, fizesse uma vida de rapaz nos cafés, e que tudo isto se passasse em Torres Vedras, na província?
Era caso para nos intrigar. Aguçava-nos ainda a curiosidade, o facto de em Portugal o jornalismo ser pouco fértil em incidentes deste género. Era necessário ir ver, necessário saber, se não havia nestas informações algo de exagero. Resolvemos partir para Torres Vedras, e ver de perto o “fenómeno”. A nossa visita ia com certeza espantar Maria Cachucha, pouco habituada a que jornalistas venham propositadamente de Lisboa para a ver.
Quando chegámos a Torres Vedras logo nos indicaram onde poderíamos encontrar a Maria Cachucha. Toda a gente a conhece. Ou estava no matadouro, ou talvez em casa a dormir. Era meio-dia Alguém mesmo rematou “Deve estar a dormir; ontem andou na pândega!…”
Seguimos para o matadouro. Maria Cachucha não estava ainda. Dormia com certeza – disseram-nos. Fomos até casa dela. Batemos. Lá dentro ouvimos vozes.- Maria Cachucha está?…
Uma voz estranha responde:
–Estou…. E depois: Vou já!
Ouviram-se ainda vozes. A porta abriu-se e Maria Cachucha apareceu-nos.
Forte como um touro, bigode, cigarro nos lábios, lenço amarrado à cabeça e vestida de mulher, Maria Cachucha está habituada a esses espantos e sorri-nos com o seu sorriso franco de bom camarada, ajudando-nos a falar.
-…Maria Cachcucha… Somos jornalistas. Gostaríamos de conversar um pouco consigo…
Uma voz máscula, baixa, brutal mesmo, responde-nos:
–Pois sim…
E a conversa começa:
-Nós viemos para a ver “matar”….
–Então não tiveram sorte. Hoje não “mato”. Se tivessem vindo na sexta-feira… Era dia de matança… Hoje não.
– Você não quer vir até ao matadouro mostrar-nos como trabalha?
–Tá bem!… Posso ir…
E com o à-vontade, as maneiras dum rapaz, encaminha-se para o nosso carro, entra e instala-se.
Seguimos para o matadouro, e lá, durante algum tempo, vimo-la no seu elemento, esfolando, agarrando as ferramentas com as suas mãos fortes, serrando as rezes, beata bumegante ao canto dos lábios…
Quando lhe pedimos para nos fazer uma demonstração da “matança” acede de boa vontade e é ela mesma que vai buscar a vaca, a amarra e a “mata”… a fingir, só para a foto.
Feita a demonstração, Maria Cachucha segue connosco para o centro de Torres… para o café… (Antiga taberna do Venceslau)
Sentados, é ela que chama o criado. -É já!…
E voltando-se para nós, pergunta:
-O que é que vocês tomam…
-…Dois cinzanos… (bebida)
Voltando-se para o criado, em “habitué” exclama:
–Dois cinzanos, um café e um bagaço para mim!…
Sentimo-nos mais à vontade.
–Maria Cachucha, há quanto tempo você faz vida… livre… de rapaz?
– Desde os 12 anos… Sempre fui assim… Gosto do convívio dos homens… Tenho bons amigos, e temos feito boas pândegas!… As mulheres são todas umas lambisgoias!…
– O que fazia você antes de “matar”?…
–Andei muito tempo a “tocar” gado de noite e de dia entre Vila Franca e Malveira… Sempre lidei com bichos…
Maria Cachucha tira uma caixa da algibeira e novamente chama o criado:
–Traz-me um maço de superior.
-Você é casada, Cachucha?…
– Não, sou viúva há mais de 10 anos…
– Não tem filhos?
–Tenho, tenho um matulão de 24 anos lá para Lisboa. Ainda lá estive na segunda- feira passada. Gosto muito de Lisboa, fazem-se lá boas pândegas! Tenho lá muitos amigos, mas aquilo custa caro. Outro dia o Franco gravador, cervejas e carapáus fritos, durou até às 6 da manhã! Mas, fartámo-nos de gozar.
Enquanto nos diz tudo isto, as suas mãos fortes, com anéis de homem, vão enrolando um cigarro com a agilidade de quem faz isso todos os dias. Mas estamos na hora de almoço e despedimo-nos de Maria Cachucha lá está, mas desta vez não está sozinha, amigos e camaradas rodeiam-na. Aos risos, às gargalhadas, pressentimentos que Maria Cachucha acaba de contar uma das suas histórias.
Abancámos também e a nossa conversa recomeça. Mais dois cinzanos (bebida) para nós, mais um café e um bagaço para a Cachucha, e, conversamos.
– Você tem sempre trabalho aqui em Torres Vedras, no Matadouro?…
– Não! Trabalhei também em Leiria e também uma vez na Nazaré. Mas na Nazaré foi só para lhes mostrar que fazia aquilo tão bem como eles… Não me julgavam capaz. Foi um gozo!…
E Maria Cachucha ri.
-É o seu único modo de vida?
–Não, faço também uns negociozitos… mas nada de volfrâmio!…
-Enfim, nada de trabalhos de mulheres?
–Arranjo a minha casa, faço a minha comida mas, costura não… tenho as mãos finas demais para isso…
-a sua maneira de viver nunca lhe acarretou dissabores?…
–Sim… Uma vez em Viseu. Julgaram que eu era um homem vestido de mulher. Tomaram-me por um passador de moeda falsa que tinha vindo a Viseu… Foi um caso sério… Mas fartei-me de rir depois… Os polícias ficaram parvos!…
-Você não tem família, em Torres?
-Tenho. Com a minha irmã é que eu estou zangada, não nos falamos. Ela não compreende a minha vida… É mulher e basta!…
Maria Cachucha ri, os amigos riem, e nós fazemos o mesmo…
Por fim despedimo-nos. Temos que partir para Lisboa. O seu aperto de mão vigoroso faz-nos pensar que é melhor estar bem com ela que mal e partimos. Qualquer coisa nos choca, sem sabermos o quê. Estivemos com uma mulher mas com uma mulher estranha. Temos vontade de fugir… de ver uma mulher qualquer, sem bigode, sem aquele palavreado masculino, sem aquela voz, uma mulher que não seja magarefe, que não “mate”, que não esfole, que não viva como um homem, enfim, uma mulher… feminina…
Já no automóvel, a caminho de Lisboa pensámos: Ainda bem que nem todas as mulheres são Marias Cachuchas… era o fim do mundo!…»